Por Dauá Puri, Rio de Janeiro
Sábado, dia 12 de Janeiro de 2013, nós, moradores da aldeia Maracanã, fomos acordados com a presença de duas patrulhas da PM. Seu representante se dirigiu
a nossa portaria e pediu a presença de um representante
indígena para
comunicar a sua presença no local. Reunimos um grupo de indígenas e fomos
falar com a PM que nos comunicou que estavam ali para uma operação de entrada
no território indígena e que estavam aguardando um mandado de segurança para
que efetivassem a operação.
Comunicados, os indígenas retornaram e convocaram a presença no local da imprensa e apoiadores, fato que, às 11 h, gerou uma grande mobilização social com a presença do Ministério Público Federal que ao chegar passou a fazer a interlocução com as autoridades e os meios de comunicação nacional e internacional. Estavam presentes também o Vereador do PSOL Renato 5, Deputado Marcelo Freixo, Deputada Janira Rocha, Vereador Bombeiro Francisco Silva, representações sindicais dos Petroleiros, Educação, Sindsprev, Comitê “MARACA É NOSSO”, Escola Friendenheich, Fist, Caema, Renato Marteleto, Rio 40 Caos das feiras orgânicas, além de artistas, músicos e estudantes.
Com esse volume de pessoas chegando os policias pediram reforço e colocaram a tropa de choque à frente do portão impedindo a entrada das pessoas, foi aí que o movimento de resistência resolveu criar uma barricada frente ao portão. A partir desse momento, os ânimos ficaram acirrados internamente até o momento que o Procurador Federal esclareceu aos indígenas sobre a questão
da legalidade da ação policial. Que nesse momento os indígenas estavam na legalidade, pois estavam no seu território enquanto os policias aguardavam o mandado, mas que a partir do momento que este chegasse os indígenas estariam na ilegalidade orientando as lideranças que não provocassem os policiais para que não houvesse violência. Após essa conversa os indígenas se reuniram e decidiram, em caso da entrada dos policias, não reagir à força respeitando as leis. Foi quando houve uma desmobilização de qualquer elemento físico que pudesse precipitar atos de provocação aos policiais da tropa de choque. Fomos informados que os policiais estavam sem identificação de nome. Um dos motivos que causou grande apreensão na população, pois eles estariam dispostos a entrar a qualquer momento no local. Finda a tarde o mandado não chegou e eles só retiraram os aparatos policias às 19:30 h.
Para nós indígenas, tudo isso foi uma surpresa, principalmente o apoio que recebemos da população, do ato de solidariedade à causa indígena, nunca visto nesta cidade, pois estamos há seis anos desenvolvendo atividades culturais no local, recebendo escolas, estudantes, pesquisadores, professores e fazendo visitas culturais. Estamos tentando falar com os governantes para levarmos as nossas propostas de desenvolvermos ali no prédio um Centro de Referencia da Cultura dos Povos Indígenas e uma faculdade para formar nosso povo, mas nunca conseguimos agendar uma audiência e de uma forma arbitrária o governo quer destruir um patrimônio que é dos povos indígenas e de toda sociedade carioca, brasileira e mundial.
Continuamos em vigília permanente. Estamos bem. Acabamos de receber a presença dos Caciques Guarany Kaioá. Continuem divulgando nosso “estado de alerta” e se possível venham estar conosco.
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